2005-08-26

O Típico Português... e a arte de atirar papéis para o chão

...enquanto faço umas pequenas incursões nas ruas da cidade na hora de almoço, reparo sempre no esforço hercúleo dos cantoneiros da câmara para limpar todos os pequenos nadas que incomodam tanto o típico português que em poucos segundos tem que se ver livre deles, não fosse a sua capacidade mental ficar afectada de alguma forma.

Os bilhetes do metro, o talão do Multibanco, o lenço de papel ranhoso, a pastilha elástica (e seu respectivo papelinho de embrulho), o celofane do maço tabaco (já para não falar nas beatas), o papel do rebuçado, o guardanapo da sandes, o jornal gratuito e por aí fora. Podia-se fazer uma investigação ao estilo do CSI só com os despojos deixados pela calçada.

Tudo isto porque o típico português, muito imiscuído na sua vidinha, não faz desvios ao trajecto para passar perto de um dos milhares de caixotes de lixo espalhados por essa cidade fora.

Assisti eu, enquanto passava por uma caixa Multibanco onde a fila já era de três pessoas, uma típica portuguesa, (e decidi fazer distinção porque esperava de tal pessoa um pouco mais de sensibilidade, que isto de ser típico português não escolhe géneros), amachucou mais silenciosamente possível um pequeno papel no interior da palma da mão, olhou disfarçadamente para ambos os lados, estendeu o braço ao longo do corpo, abriu a mão lentamente deixando cair o papel e olhando sempre em frente fez dois remoinhos nas pontas do cabelo e com um ar – que isto não é nada comigo – continuou na fila à espera da sua vez.

Infelizmente a mim coube-me murmurar entre dentes – que bonito! – Sem nada dizer e nada fazer porque devido a confrontos anteriores a resposta devolvida é sempre a mesma : os varredores têm que fazer alguma coisa!