2007-06-07

O Típico Português...no Restaurante Parte II

O Típico gosta de comer e a sua prole também. Nada como juntar o útil ao agradável e fazer disso um passeio de fim de semana! E claro o Típico é um homem de família e não há almoço de fim de semana que não seja acompanhado pelos tios, primos, sogros, avós, netos, pais, filhos, genros, noras e cão.

Levantar cedinho no sábado, aperaltar-se o mais possível, meter os seus óculos de sol raibantes (ray-ban comprado na saída do metro) no carão com barba escanhoada à fim de semana, bigode arrebitado e penteado, pólo de risca laranja LadaCosta (Lacoste contrafeito), os ténis Ardidas (da feira) e estamos prontos para a romaria aos restaurantes da moda, típicos e completamente abarrotados (mais ainda se for perto do dia de São Receber).

A Maria leva mais tempo a arranjar-se, e ainda a arranjar os miúdos, porque a meia do Quinzinho não ficava bem com o sapatinho e não combinava com a calça, e porque a Joaninha rebola-se no chão de tanto chorar que quer a camisola amarela com a saia verde alface e meia roxa, mesmo depois da mãe insistir que ela parece uma palhaça.Veste a suas coçadas calças de ganga rotas nos seu generoso traseiro, a sua t-shirt branca Dolce e Gabbana, amarelada nos sovacos a deixar ver o seu fantástico soutien laranja choque, o seu relógio Swatch ultima colecção dos piu-pius e não sai sem deixar um rasto de perfume Tresor capaz de afugentar mosquitos a dez metros de distância.

Depois de muitas buzinadelas ao fundo da rua no seu Mercedes cor de caramelo torrado passado da validade, o Típico já esbaforido vê a Maria, os putos e o carrinho de bebé, o nenuco, o fraldário, duas malas de mão e outros tantos sacos com tudo e mais alguma coisa que, segundo a Maria: "pode vir a ser preciso!".

Rumo ao restaurante, e após diversos enganos, ultrapassagens e buzinadelas, chegam ao "Cantinho do Barril do Chico" e aí logo começam novas façanhas! Estacionar, arranjar mesa, sentar os velhotes e esperar a sua vez (o que é muito complicado para o Típico!) e ler o menu todo só para depois saber que o prato que escolheu está esgotado...é uma estafa!!

Após o moroso e complexo pedido de todas as bebidas e pratos a serem servidos ditados com primor por todos de uma só vez, o Típico instala-se e começa por logo atacar com fúria as entradas que isto já são uma e meia e não se tomou o pequeno-almoço!!

E no meio deste episódio rocambolesco entra o melhor de tudo: os F. P. C.!

Os Filhos da P*** da Criancinhas!Eles brincam, berram e choram, distribuem pontapés, cotoveladas e comida por todos, correm por meio de todas as mesas e cadeiras atropelando tudo, fazem cenas, choram baba e ranho por cima do prato de batatas fritas, mas enfim são o orgulho do típico português, que embevecido os mira de longe e exclama: -"São tão espertos os meus filhos"...

A refeição familiar termina sempre com o chafurdamento completo das mesas onde estavam instalados, em que a mesa com toalhas de papel, outrora imaculadas, se transforma na fantástica arte da esferográfica tugga, e de todas as trocas de travessas, pratos e copos, que com uma precisão de CSI se pode adivinhar o menu de tão bendito almoço.

Típico Português que seja digno desse nome não abandona a mesa sem antes pedir uns restinhos para o cão.E lá sai ele orgulhosamente do restaurante todo refastelado e mais inchado de estômago e de saco plástico na mão...

O Típico Português... no WC Público.

É nos water closets públicos que se pode ver a verdadeira pinta de um Típico Português, seja ele versão fêmea ou macho, a ida ao toilete pode ser realmente revelador do comportamento deste espécimen tão engenhoso, criativo e deveras interessante.

Versão Fêmea

Ainda hoje, não há investigação científica que explique porque é que as típicas portuguesas vão ao toilete, aos pares. Só sabemos que esta ida aos pares provoca grandes engarrafamentos e grandes secas aos respectivos que as acompanham.

Normalmente conseguem sempre fazer duas acções ao mesmo tempo: acertar no mijatório de cócoras e escrever recadinhos na porta. Os recados são sempre filosóficos e de alto nível linguístico, com expressões profundas de amor e paixão ardente para o sexo oposto que nunca na vida irá lê-los a não ser que esteja de diarreia e ainda se engane na porta da casa de banho. Outras mais ágeis conseguem ainda fumar e atender o telemóvel, mas ...não é para todas.

No final do alivio reparam sempre que o wc não estava munido de papel higiénico e já em desespero esgravatam furiosas nas profundidades da pochete em busca daquele ultimo lenço que serviu para pôr a pastilha elástica antes de almoçar...
Saiem então do cubículo como se nada fosse. Apenas mais uma paragem no espelho para retoques disto e daquilo e reparar o que a gaija do lado tem vestido, calçado e penteado e saiem sorridentes e belas com o ultimo pedaço de papel higiénico agarrado ao salto do sapato...

Versão Macho

O Típico Português quando vai ao wc, não anuncia que vai, o que é que vai fazer, como o vai fazer e muito menos pede companhia.
Tem sempre espaço livre de sobra e ainda pode escolher entre as modalidades de tímido ou na boa. Ou seja cubículo ou urinol.

Respeita inteiramente o espaço dos outros, olha sempre em frente e deixa sempre um urinol de intervalo entre o próximo companheiro de aflição. Tem destreza suficiente para chegar de pasta na mão e cigarrinho ao canto da boca, abrir o fecho com a mão livre, fazer o serviço, fechar o fecho e sair.
Sem complicações. Provavelmente o próximo a ser cumprimentado será um colega mais chato ou mesmo o chefe. Há coisas fantásticas não há???

O Típico Português ... no Restaurante

O Típico Português gosta de comer, ponto.

Conhece todos os recantos de tasca, roulote , bar, snack-bar, cantina, refeitório, pastelaria, cafetaria e restaurante, desde que sirvam bitoque , uma bejeca fresca e um bom café.

Antes de se sentar gosta de observar o ambiente e escolhe sempre um lugar sentado pra porta da frente não vá aparecer um amigalhaço que se possa oferecer para pagar o almoço. Depois de arrastar o seu casaco pelo prato das ultimas três mesas, lá se senta ruidosamente distribuindo cotoveladas e com-licenças aos parceiros ocasionais de mesa.

Estuda com afinco a ementa, enquanto mira com interesse o que o vizinho do lado está a tirar da travessa e regista mentalmente os preços da meia-dose. Pergunta sempre se o peixe é fresco, só para obter confirmação (como se fossem dizer-lhe o contrário) e pra acompanhar um vinhito da casa. Apesar de tão variada ementa nunca consegue resistir a um bom bitoque com ovo a cavalo, a um cozido à portuguesa ( mesmo no pino do Verão) ou a um bacalhau assado com batatas a murro. Das suas preferências ainda constam a espetada mista, uns carapaus com molho à espanhola, arroz de marisco ou uns secretos de porco preto, quando a carteira está mais recheada.

Serve-se da travessa para o prato tipo escorrega e deixa nem que seja meia batata e uma folha de alface pois não quer dar ares de esfomeado. Degusta sempre a sua escolha de olhos fixos no prato, levantando ocasionalmente só pra ver quem entra ou sai, sorve do copo a sua pinga, e limpa num só gesto horizontal os beiços no guardanapo de papel. Tudo meticulosamente coordenado porque a hora do almoço passa rápido, as sobremesas estão a acabar e ainda tem de passar no quiosque do Joaquim para comprar o diário desportivo e pôr o euromilhões.

Nas sobremesas não há que enganar: leite creme, arroz doce e salada de fruta, tudo o resto são mariquices. A refeição não fica completa sem um digestivo e um palito prós dentes.

Enquanto mexe e remexe o adoçante no café, um olhar perdido nas letras gordas do jornal do comezainas da frente, pede a conta ( a dolorosa) com pssst pssst e dedo estendido no ar que já se faz tarde. Confere todas as parcelas, paga e com ar de enfado deixa uma gorjeta ou os trocos que não chega nem pra um café...